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Capítulo 16: Capítulo 16

Página 513
E nós, os meridionais, por mais críticos, gostamos do palavreadinho mavioso. Eu cá pelo menos, à noite, com mulheres, luzes, um piano e gente de casaca, pelo-me por um bocado de retórica.

E, com o apetite assim desperto, ergueu-se logo para enfiar o paletó, voar à Trindade, num receio de perder o Rufino.

Carlos deteve-o ainda, com uma grande ideia:

- Espera. Descobri melhor, fazemos o sarau aqui! Maria toca Beethoven; nós declamamos Mussuet, Hugo, os parnasianos; temos padre Lacordaire se te apetece a eloquência; e passa-se a noite numa medonha orgia de ideal!...

- E há melhores cadeiras, acudiu Maria.

- Melhores poetas, afirmou Carlos.

- Bons charutos!

- Bom cognac!

Ega alçou os braços ao ar, desolado. Aí está como se pervertia um cidadão, impedindo-o de proteger as letras pátrias – com promessas pérfidas de tabaco e de bebidas!... Mas de resto ele não tinha só uma razão literária para ir ao sarau. O Cruges tocava uma das suas Meditações de Outono, e era necessário dar palmas ao Cruges.

- Não digas mais! gritou Carlos, dando um pulo da poltrona. Esquecia-me o Cruges!... É um dever de honra! Abalemos.

E daí a pouco, tendo beijado a mão de Maria que ficava ao piano, os dois, surpreendidos com a beleza dessa noite de inverno, tão clara e doce, seguiam devagar pela rua - onde Carlos ainda duas vezes se voltou para olhar as janelas alumiadas.

- Estou bem contente, exclamou ele travando do braço do Ega, em ter deixado os Olivais!... Aqui ao menos podemos reunir-nos para um bocado de cavaco e de literatura...

Tencionava arranjar a sala com mais gosto e conforto, converter o quarto ao lado num fumoir forrado com as suas colchas da Índia, depois ter um dia certo em que viessem os amigos cear... Assim se realizava o velho sonho, o cenáculo de diletantismo e de arte...

Além disso havia a lançar a Revista, que era a suprema pandega intelectual. Tudo isto anunciava um inverno chic a valer, como dizia o defunto Dâmaso.

- E tudo isto, resumiu o Ega, é dar civilização ao país.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 513

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605