Gente de Dublin - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 27 / 117

dos olhos irritou-o. Repeliam-no e desafiavam-no: não existia neles nem paixão nem êxtase. Lembrou-se do que Gallaher havia dito acerca das judias ricas. Aqueles olhos escuros orientais como eram cheios de paixão e voluptuosidade!... Porque teria casado com os olhos do retrato?

Fez essa pergunta a si mesmo e olhou, vergonhosamente, em volta do quarto. Encontrou qualquer coisa de frio na mobília comprada a prestações. Annie é que a tinha escolhido. Era uma mobília afectada e bonita de mais. Um estúpido ressentimento contra a sua vida acordou nele. Não poderia escapar daquela casa? Seria já tarde para tentar viver como Gallaher? Poderia partir para Londres? Se conseguisse escrever um livro e publicá-lo, isso abrir-lhe-ia o caminho.

Em cima da mesa estava um volume de poemas de Byron. Abriu-o cuidadosamente com a mão esquerda, para não acordar acriança, e começou a ler:

«Hushed are the winds and still the evening gloom,

Not e' en a Zephyr wanders through the grove,

Whilst I return to view my Margaret's tomb

And scatter flowers on the duat I love.»

Tradução:«Rápidos correm os ventos; apesar disso, na escuridão da noite, nem sequer um zéfiro vagueia pela alameda, enquanto eu volto para visitar o túmulo de Margaret e encho de flores essa memória do meu amor.»





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