Na Estação de Westland Row, uma multidão queria invadir as carruagens, mas o porteiro fê-la recuar, dizendo que aquele comboio era especial para o bazar. Fiquei sozinho no compartimento. Depois de alguns minutos, o comboio parou ao longo de uma plataforma improvisada. Passei para a rua e reparei que o relógio marcava dez menos dez. À minha frente encontrava- -se a grande construção que ostentava o nome mágico.
Não consegui nenhuma entrada de seis pence, e receando que o bazar fechasse, estendi um shilling a um homem de cara cansada. Encontrei-me num grande recinto circundado, a meia altura, por uma galeria. Quase todas as pequenas lojas estavam já fechadas, e a maior parte do recinto permanecia na escuridão. Pareceu-me reconhecer ali o silêncio que paira numa igreja depois de um serviço religioso. Caminhei timidamente para o centro do bazar. Viam-se algumas pessoas em volta das lojas que ainda permaneciam abertas. Ao pé de uma cortina, na qual as palavras «Café Chantant» estavam iluminadas a cores, dois homens contavam dinheiro. Escutei o tilintar das moedas.
Lembrando-me com dificuldade da razão que ali me trouxera, dirigi-me a uma das lojas para examinar vasos de porcelana e serviços de chá floridos. A uma porta, certa rapariga falava e ria com dois jovens. Repa- rei na acentuação inglesa e ouvi, vagamente, a conversa que sustentavam.
- Oh, eu nunca disse semelhante coisa.
- Ai, isso é que disse!
- Não, não disse!
- Então, ela não disse?
- Sim, eu ouvi ela dizer.
- Ai, isso é uma mentira!
Tendo-me observado, a rapariga veio perguntar-me se eu queria comprar alguma coisa. O tom da sua voz não era encorajador: parecia haver-me dirigido a palavra somente por dever. Olhei humildemente para as grandes jarras que jaziam como guardas de cada lado da entrada e murmurei:
- Não, obrigado.
A rapariga mudou a posição de um dos vasos, e voltou para junto dos rapazes. Recomeçaram a conversar. Por uma ou duas vezes ela olhou-me por cima do ombro.
Demorei-me em frente da loja, apesar de saber que a minha permanência era escusa- da, apenas para demonstrar que o meu interesse nas suas mercadorias era verdadeiro. Depois, saí dali vagarosamente, e andei para o centro do bazar. Deixei que as moedas tombassem no bolso. Ouvi uma voz gritar de uma das extremidades da galeria: «A luz vai apagar-se!»...