O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 21 / 102

O advogado voltou para casa com um nó no coração. «Coitado do Harry Jekyll», pensou. «Desconfio que se encontra em maus lençóis! Nos seus tempos de rapaz, era um tanto irreverente; é certo que já lá vai muito tempo; mas as leis de Deus não conhecem limites. Credo, só pode ser isso! É o espectro de um velho pecado, o tumor de alguma desgraça oculta: a punição que se aproxima, pede claudo, quando o delito já foi esquecido e o amor-próprio o perdoou».

Assustado por esta ideia, Utterson meditou um pouco sobre o seu próprio passado, rebuscando todos os recantos da memória, receoso de que alguma velha iniquidade saltasse de lá subitamente, como um boneco de mola numa caixa de surpresas. Mas o seu passado era imaculado; não havia muitos homens que pudessem relembrar o passado com menos apreensão. No entanto, curvava-se humildemente por todas as más acções praticadas; e reerguia-se em sóbria e temerosa gratidão pelos muitos delitos que estivera na iminência de cometer e que fora capaz de evitar. Então, retomando os pensamentos que não o largavam, vislumbrou uma centelha de esperança.

«Se este senhor Hyde fosse bem analisado», pensou, «teria certamente muitos segredos para revelar; e, a avaliar pelo seu aspecto, deveriam ser bem negros; ao pé destes, os piores segredos do pobre Jekyll seriam brilhantes como o sol. Esta situação não pode continuar assim. Gela-se-me o sangue só de imaginar aquela criatura, junto ao leito de Harry, extorquindo-o como um ladrão. Coitado do Harry! Que terrível despertar!





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