O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 6: Capítulo 6 Pág. 44 / 102

Na noite seguinte ao funeral, que o afectara com uma grande tristeza, Utterson fechou a porta do escritório e, sentando-se à luz de uma candeia melancólica, tirou do cofre e colocou diante de si um envelope com o endereço manuscrito e lacrado com o timbre do seu amigo falecido. «CONFIDENCIAL: a entregar em mão APENAS a J. G. Utterson, devendo ser destruído, caso este faleça prematuramente», assim estava escrito com ênfase; e o advogado receava tomar conhecimento do conteúdo. «Já enterrei um amigo hoje», pensou; «e se isto me custar a perda de outro?» Mas logo condenou o seu medo como sendo uma deslealdade, e quebrou o selo. No interior havia um outro sobrescrito, igualmente selado, com a seguinte nota escrita: «Não deve ser aberto antes da morte ou do desaparecimento do Dr. Jekyll». Utterson não queria acreditar no que via; no entanto, estava escrito «desaparecimento»; também aqui; tal como no louco testamento que havia muito tempo ele devolvera ao autor, a ideia de desaparecimento surgia associada ao nome de Henry Jekyll. Porém, no testamento, essa ideia despontara das sinistras sugestões de Hyde; estava estabelecido com um propósito horrível e definitivo. Escrito pelo punho de Lanyon, que poderia significar? Uma enorme curiosidade apoderou-se do mandatário, no sentido de desrespeitar a proibição e mergulhar de imediato no âmago destes mistérios; mas a dignidade profissional e a fidelidade ao seu defunto amigo eram deveres a cumprir escrupulosamente; e o pacote foi devolvido ao cofre privado, onde ficou a repousar no mais recôndito recesso.




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