Contos de Mistério - Cap. 8: O ESPELHO DE PRATA
(The silver mirror) Pág. 161 / 167

Eu não ouvia um som, mas percebia que ela gritava.

E então, ou porque uma tal visão me torturava os nervos, ou porque, findo o meu trabalho, falhara aqui o apoio necessário para sustentar o peso de um esgotamento de várias semanas, o quarto pareceu dançar à minha volta, o sobrado afundar-se debaixo dos meus joelhos, e desmaiei. A minha senhoria encontrou-me, na manhã do dia seguinte, cedo, estendido, inanimado, em frente do espelho de prata. Aliás, só tomei conhecimento disto há três dias quando acordei na clínica do doutor.

9 de Fevereiro. Só hoje contei tudo ao Dr. Sinclair, pois ele ainda não me permitira abordar o assunto. Prestou uma grande atenção à minha narrativa. "O senhor não conhece na História", disse-me, "uma cena famosa com que se identifique a sua?" Tinha uma suspeita no olhar quando me perguntou isto. Confessei-lhe a minha ignorância em História. "E não faz ideia nenhuma de onde pôde vir este espelho, nem de quem possa ter sido o proprietário?" "Mas o senhor mesmo... " interroguei, adivinhando nele uma intenção. "É incrível", disse, "mas que outra explicação se impõe? As cenas que me descreveu já me faziam pensar nisso; agora ultrapassa tudo o que se conhece em matéria de coincidência. Logo à noite trago-lhe umas notas."

Mesmo dia, mais tarde. Deixa-me. Gostaria de relatar fielmente as suas palavras. Começou por colocar em cima da cama vários livros cheios de poeira.

- Aqui tem - disse-me - livros que poderá consultar à vontade. E aqui tem notas cuja exactidão poderá verificar. Nenhuma dúvida possível: o senhor viu o assassínio de Rizzio pelos nobres escoceses, na presença de Maria Stuart, no mês de Março de 1566 '. A sua descrição da mulher é muito correcta. A testa alta, as pálpebras pesadas, a grande beleza, tudo isto cria uma combinação dificilmente aplicável a duas mulheres.





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