Contos de Mistério - Cap. 2: O LOTE N° 249
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Um rolo de papiro estava encostado ao sarcófago; em frente do rolo, o proprietário do apartamento sentava-se num cadeirão de madeira; tinha a cabeça atirada para trás; os olhos esbugalhados e horrificados fixavam o crocodilo; os seus lábios azuis e espessos estremeciam convulsivamente em cada expiração.

- Meu Deus! Está a finar-se! - exclamou Monkhouse Lee desorientado.

Monkhouse era um belo rapaz delgado, de olhos negros e tez azeitonada; tinha mais o tipo espanhol do que o tipo inglês; a sua exuberância céltica contrastava com a fleuma saxónica de Abercrombie Smith.

- Apenas um desmaio, penso - respondeu o estudante de medicina. - Dê-me uma ajuda, Agarre-o pelos pés. Agora, deitemo-lo no canapé. Consegue desembaraçar o canapé de todos estes diabretes de madeira? Mas que desarrumação! Olhe, ficará muito bem se lhe desabotoarmos o colarinho e o fizermos beber um pouco de água. Que lhe aconteceu?

- Não sei de nada. Ouvi-o gritar. Subi a correr. Conheço-o bem, compreende? Foi muito amável em ter descido.

- O coração bate como um par de castanholas - disse Smith que tinha pousado uma mão no peito de Bellingham que continuava desmaiado. - Dir-se-ia que está apavorado. Molhe-o com água! Que estranha cara ele tem!

De facto, o rosto de Bellingham era ao mesmo tempo estranho e repugnante, tanto devido à tez como às feições. Estava branco, não com a palidez vulgar que o medo suscita,

mas com o branco absolutamente incolor do ventre de certos peixes. Estava muito gordo mas dava a impressão de ter sido antes ainda mais gordo, porque a pele pendia em pregas e estava teci da por uma rede de rugas. Cabelos castanhos em escova eriçavam-se-lhe no crânio; tinha as orelhas saídas; nos seus olhos cinzentos permanentemente abertos, as pupilas achavam-se dilatadas; a fixidez do olhar era horrível de se ver.





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