Contos de Mistério - Cap. 2: O LOTE N° 249
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ARTHUR CONAN DOYLE

CONTOS DE MISTÉRIO

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- Então vou descer até sua casa e dormirei no seu canapé.

Boa noite, Smith. Lamento profundamente tê-lo incomodado com as minhas idiotices.

Trocaram um aperto de mão; o estudante de Medicina subiu de três em três os degraus da escada para chegar ao seu quarto; ouviu descer os dois companheiros para o apartamento do primeiro andar.

Aqui está como Edward Bellingham e Abercrombie Smith travaram conhecimento; o estudante de Medicina não estava interessado em ir mais adiante, mas Bellingham pareceu ter ficado embeiçado pelo vizinho; fez aproximações de uma maneira tal que só um verdadeiro bruto as repeliria. Por duas vezes, foi a casa de Smith para lhe agradecer a assistência; depois bateu-lhe à porta para levar-lhe livros, jornais e todas as pequenas coisas que podem oferecer um ao outro dois vizinhos celibatários. Smith não tardou a descobrir que ele tinha lido muito, que estava inclinado para o catolicismo, que possuía uma memória extraordinária. Os seus modos eram tão agradáveis, tão meigos que ao cabo de um certo tempo fazia esquecer o seu aspecto físico pouco simpático. Cansado como estava Smith, não o achava de modo nenhum desagradável; adquiriu rapidamente o hábito das suas visitas e, quando calhava, retribuía-as.

Apesar de Bellingham ser incontestavelmente inteligente, Smith detectou nele, mesmo assim, um toque de demência, pelo menos aparente. Lançava-se por vezes em períodos oratórios alongados que contrastavam com a simplicidade da sua existência.

- É uma coisa maravilhosa - exclamava - sentir que podemos comandar os poderes do bem e do mal, que podemos ser um anjo caritativo ou um demónio de vingança!

E de Monkhouse Lee dizia:

- Lee é um bom tipo, um homem honesto, mas não tem vigor nem ambição.





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