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Capítulo 1: A Queda de Tróia

Página 12

Diante da própria porta do vestíbulo já estava Pirro, filho de Aquiles, esplendoroso nas suas armas e na sua armadura reluzente, mortal parecendo uma cobra que, terminado o Inverno, sai da toca e, após ter comido ervas venenosas e mudado de pele, se dirige coleante para o campo ensolarado, a língua bífida vibrando, estendida, e a boca sibilante. Junto a ele, lutavam o seu escudeiro Automedonte, o grande Périfas, condutor dos cavalos de Aquiles, e a flor da juventude de Siros, pátria de Pirro, atirando archotes e setas inflamadas para os tectos e cumeeiras dos telhados. Agarrando num machado de dois gumes, o próprio Pirro atacou os batentes de bronze do portão, arrancando-o do suporte e pondo à vista o grande salão de colunas do rei Príamo. Destruíram as almofadas de carvalho de uma porta que dava para o interior da casa e por essa passagem espalharam-se os gregos pelos aposentos reais, travando luta com os poucos defensores que restavam.

O interior do palácio ressoava com o clangor da batalha, os gritos das mulheres e os gemidos dos feridos. Pirro, com o ardor herdado do pai Aquiles e louco de fúria assassina, tudo levara de roldão com os seus, como o rio que, rotos os diques, se espalha pelos campos e arrasta à frente rebanhos e estábulos. Lá estava Neoptólemo, furioso na carnificina, com os dois filhos de Atreu. Os gregos eram então senhores daquele palácio de cinquenta quartos, daquelas portas cinzeladas com o ouro roubado aos bárbaros e dos tesouros da família.

Quanto a Príamo, ao ver a cidade incendiada, os defensores vencidos e a soldadesca grega invadindo o seu próprio palácio, correu aos aposentos reais, vestiu-se da armadura e empunhou as armas havia muito abandonadas, com o corpo frágil e a mão trémula. Reuniu-se então a Hécuba e às filhas que oravam aos deuses junto ao altar do átrio do palácio, ao ar livre. Ali havia um toureiro que espargia a sua sombra amiga sobre os penares troianos. Vendo o velho marinheiro, armado e preparado para a luta, exclamou a esposa:

— Que ideia cruel foi essa, infeliz consorte, de te cingires com armas? Para onde vais? Não vês que nem o próprio Heitor, com a sua força e a sua coragem, nos seria de algum valor? Recolhe-te aqui, junto aos nossos deuses, pois eles ou nos salvarão ou nos farão morrer todos juntos.

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Capa do livro Eneida
Páginas: 235
Página atual: 12

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
A Queda de Tróia 1
Partem os Troianos 20
Eneias Chega a Cartago 38
Eneias e Dido 57
Os Jogos Fúnebres 79
Eneias no Mundo das Sombras 102
Os Troianos Desembarcam na Itália 124
Eneias em Apuros 141
Os troianos são Cercados 157
A Assembleia dos Deuses 177
O Rei Latino Pede Paz 195
O Combate Final 215