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Capítulo 1: A Queda de Tróia

Página 4

Replicou então Eneias, acalmando-lhe os temores:

— Queremos conhecer quão grandes podem ser os crimes e astúcias dos gregos. Continua, pois.

Ao que ele, fingindo o que não era, prosseguiu:

— Muitas vezes, os gregos, cansados de uma guerra tão longa e sentindo fraquejar as forças, as armas, os mantimentos e o animo, desejaram deixar Tróia e voltar à pátria. E oxalá o tivessem feito! Mas sempre que se decidiam a isso, parece que os ventos e o mar se combinavam para lhes alterar os desígnios. A ideia de que os deuses fossem contrários à nossa fuga, aterrava-nos. Assim, perplexos, resolvemos enviar Euripilo para consultar os oráculos de Apolo. Foi e voltou trazendo este vaticínio horrível: Aquando pela primeira vez, ó gregos, viestes para o litoral troiano, aplacastes o vento com o sangue e a morte de uma donzela. O regresso também deve ser regado com o sangue e o sacrifício de uma alma de grego.» Ao ouvir isto, a multidão de guerreiros baixou a cabeça, horrorizado, e um frio temor percorreu-lhe os ossos até a medula, pois não sabia a quem Apolo escolheria. Por entre grande vozearia, Ulisses avançou com o adivinho Calcante e exigiu-lhe, na frente de todos, que revelasse quem era a vítima preferida dos deuses. Já os meus amigos me profetizavam a escolha da dupla astuciosa, mas calados esperavam o que sucederia. Calcante recolheu à sua tenda e lá permaneceu, silencioso, dez dias. Finalmente, pressionado pelo Itaco, rompeu o silêncio e apontou-me para o sacrifício do altar. Todos, alegres de se terem livrado da morte, aprovaram a escolha, pois sempre se sabe resistir com galhardia à desgraça que se abate sobre os outros. O dia fatídico aproximava-se e eu, aterrado, via ultimarem-se os preparativos para os rituais sagrados: a carne salgada, os pões, as fitas em torno da minha cabeça e os banhos com água santificada. Digo-vos, então, que quebrei os laços que me prendiam e fugi, escapando a um destino cruel e injusto. Durante a noite, escondi-me entre as algas, numa lagoa próxima, até que fossem embora. Não tenho mais esperança de rever a pátria, os meus filhos, o meu saudoso pai e é até possível que esses entes queridos expiem a minha culpa no altar do sacrifício. E eu te peço, ó rei, pelos deuses justos—se é que alguma justiça resta entre os mortais—, que tenhas piedade de quem já tanto sofreu, e tanto sofreu injustamente.

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Capa do livro Eneida
Páginas: 235
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Os capítulos deste livro:
A Queda de Tróia 1
Partem os Troianos 20
Eneias Chega a Cartago 38
Eneias e Dido 57
Os Jogos Fúnebres 79
Eneias no Mundo das Sombras 102
Os Troianos Desembarcam na Itália 124
Eneias em Apuros 141
Os troianos são Cercados 157
A Assembleia dos Deuses 177
O Rei Latino Pede Paz 195
O Combate Final 215