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Capítulo 4: Eneias e Dido

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Mas Dido, cega de paixão e orgulho ferido, encarou-o de alto a baixo, olhos reluzentes, e falou:

— Nem uma deusa é tua mãe, nem Dárdano origem da tua raça, ó pérfido. Mas o Cáucaso horrendo te fez nascer nas agrestes penedias e a ti te amamentaram os tigres da Hircania! Oh, deuses do Céu! Como é de pedra o coração dos homens! Porventura se comoveu ele com as minhas lágrimas? Porventura baixou os olhos, envergonhado do seu procedimento? Porventura, reconhecendo o erro, condoeu-se da mulher que o ama? Oh, que palavras acharei que lhe comovam o coração! Nem a grande Juno nem o seu augusto esposo podem olhar indiferentemente para tais coisas. Como se pode confiar mais em alguém, quando eu, Dido, rainha de Cartago, vendo-o arremessado à praia, náufrago e necessitado de tudo—a ele e aos companheiros—e então, louca que fui, salvei-o da morte, ajudei-o e dei-lhe parte dos meus reinas. Ai! Como me inflamam as Fúrias a dizer tais coisas! E agora o pérfido alega não ter vontade própria, que Apolo, os oráculos e o mensageiro real Mercúrio o mandam fazer isto ou aquilo. És bem querido dos deuses para que se dêem a esse trabalho e ainda te enviem o fantasma do teu pai para te aconselhar durante o sono. Não te detenho, nem te refuto as palavras! Vai, segue para Itália com os ventos, demanda o teu reino pelas ondas. Na verdade, espero—se os deuses piedosos alguma coisa podem—que hás-de sofrer perigos e suplícios entre os rochedos e muitas vezes hás-de invocar o nome de Dido. Eu, ausente, seguir-te-ei com chamas negras e quando a fria morte tiver separado os meus membros do espírito vital, como sombra estarei presente em todos os lugares. Sofrerás castigos, ó perverso, e a noticia de que sofres chegará até às mais profundas cavernas onde eu estiver.

Faltou-lhe então a voz e com o coração partido retirou-se a infeliz Dido da frente do troiano. Servas pressurosas ampararam-na e conduziram-na quase desmaiada para o leito.

Eneias, todavia, desejoso por lhe acalmar o espírito e dizer-lhe palavras doces que lhe minorariam a dor da separação, não podia recuar perante a ordem dos deuses e dirigiu-se à praia para ver como iam os preparativos da partida.

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Capa do livro Eneida
Páginas: 235
Página atual: 67

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
A Queda de Tróia 1
Partem os Troianos 20
Eneias Chega a Cartago 38
Eneias e Dido 57
Os Jogos Fúnebres 79
Eneias no Mundo das Sombras 102
Os Troianos Desembarcam na Itália 124
Eneias em Apuros 141
Os troianos são Cercados 157
A Assembleia dos Deuses 177
O Rei Latino Pede Paz 195
O Combate Final 215