- Oh! exclamava ela chorando, é preciso ter bem pouco amor para proceder assim. Eu não o condenaria tão de leve. Mas decerto que ele não me ama como eu o amo.
Entretanto ainda uma vaga esperança a alentava. Elias talvez chegasse a ter conhecimento, se é que já não tinha, do sucesso que trouxe ou havia de trazer inevitavelmente o rompimento de seu contrato de casamento com Leonel. Se lhe tinha verdadeiro amor, havia por certo de arrepender-se da precipitada resolução que tomara de nunca mais vê-la, e voltaria. Se não fosse o amor, a curiosidade mesmo o faria voltar, e, quem sabe? também desejo a vingança para ter o prazer de vê-la humilhada em razão do triste desfecho da projetada união. Fosse porém qual fosse o motivo que o trouxesse, ela só suspirava por vê-lo na Bagagem; não faltaria ocasião de revelar-lhe tudo o que ocorrera, e o seu perdão era certo.
Como já vimos, Lúcia não se enganara: a resolução desesperada de Elias apenas tinha durado algumas horas. Mas antes que Lúcia o soubesse, teve de passar ainda muitos dias de cruel incerteza e inquietação.
Elias, em consequência dos profundos pesares e violentas comoções de espírito por que havia passado durante aqueles dias, sofreu um novo e grave ataque de febre intermitente que tinha apanhado em sua volta do Sincorá, ataque que o prostrou na cama por muitos dias. Não querendo incomodar nenhum dos habitantes da Bagagem, contra os quais estava possuído do mais vivo e justo ressentimento, recolhera-se a um tosco e pobre ranchinho, separado cerca de um quarto de légua do rio acima do grosso da povoação, onde era tratado por uma pobre parda velha, sua conhecida de Uberaba, que como tantos outros tinha mudado para a Bagagem os seus penates.
Elias conhecia e trazia consigo os medicamentos necessários para combater sua moléstia, e portanto, dispensou o médico que a boa velha em vão instava que se chamasse.