.. mas Deus é grande; há-de compadecer-se deles. Eu tenho mais dó é das pobres meninas, coitadinhas! tão mimosas, tão bonitinhas! há-de custar-lhes bastante acostumarem-se com a pobreza.
- Talvez não; foram criadas na roça, e estão acostumadas com o trabalho.
O pai não tinha outro defeito senão o de ser muito fanfarrão e todo enfatuado de riqueza e fidalguia. No mais era um homem de bem, e soube dar excelente educação a suas filhas. Mas nem por isso são menos dignas de lástima.
- E por que não vai fazer-lhe uma visita, e oferecer-lhe o nosso préstimo; coitados!... Não digo hoje, mas amanhã ou depois, quando melhorar...
- Esse é o meu desejo; mas...
- Mas o quê?... há-de ir; são nossos vizinhos, e talvez lhe possamos prestar nalguma coisa.
Elias bem ardia em desejos de ir ver Lúcia. Mas, ofendido há tão pouco tempo pelo Major em seu amor-próprio, sentia certa repugnância em ir visitá-lo, e demais receava que ele pensasse que sua visita naquela ocasião tinha por fim humilhá-lo e mortificá-lo. Visitar Lúcia na ausência do pai, também sua natural delicadeza não permitia, principalmente naquela condição em que ela se achava; era dever duplamente sagrado para ele respeitar-lhe o recato e a reputação.
Elias passou essa manhã a excogitar um meio de ver Lúcia sem encontrar-se com o Major; mas seu cérebro abrasado e debilitado pela moléstia não lhe sugeriu nenhum. À tarde o acesso febril o prostrou na cama, e forçoso lhe foi renunciar por esse dia ao seu desejo.
No dia seguinte amanheceu muito melhor. O Major saiu como na véspera à mesma hora. Elias que não ousava fazer uma visita formal à casa de seus vizinhos, começou a rondá-la em torno, mas em certa distância respeitosa, a ver se por acaso entrevia de longe a sua querida Lúcia, e esperando que o acaso lhes proporcionaria ao menos um momento de entrevista.