O Garimpeiro - Cap. 14: XIV – A LAVADEIRA Pág. 112 / 147

cujas águas borbulhando-lhe em torno beijavam amorosas as duas colunas de alabastro nelas mergulhadas, dir-se-ia Vénus no momento em que nascia da espuma do mar, ou branca açucena que ali nascera à beira da fonte, e pendia o cálix a mirar-se em seu cristalino regaço. Nunca Elias, nos dias em que ela era rica e feliz, no meio das festas e do esplendor do luxo, nunca a vira tão linda, tão fascinadora assim. O coração batia-lhe com tal violência, que tinha medo que fosse ouvido e traísse a sua presença ali. Entretanto quase se envergonhava de estar ali espreitando às escondidas e profanando com suas vistas o inocente e descuidoso desalinho daquela casta criatura. Queria fugir, mas seus pés pregados à terra, e seus olhos não podiam desviar-se daquela Angélica figura que os fascinava, e se Lúcia nunca dali saísse, Elias também ali ficaria para sempre, ou então de um salto transpondo a cerca, iria se arrojar aos pés dela, se do lado de cima da bica não estivesse em pé uma escrava que com ela conversava. Era a boa e fiel Joana, que acabava de colher nos canteiros destroçados daquela inculta horta um punhado de ervas para o parco jantar da família, enquanto a senhora lavava roupa.

Não é só a morte que nivela as condições; o destino às vezes a antecipa, e se compraz em curvar a cabeça dos ricos e orgulhosos até beijarem o pó da terra, e coloca escravos ao nível do senhor. Mas o destino é cego, e o raio que fulmina sobre a cabeça do culpado também às vezes debruça sobre o lodo o lírio puro da inocência e da virtude.

Quando Elias as avistou, a conversa das duas estava tocando a seu fim.

- Tem paciência, sinhazinha, - dizia a escrava. - Nossa Senhora do Patrocínio há-de ter piedade de nós. Querendo Deus, tudo se há-de arranjar e nós ainda havemos de voltar para nossa roça.





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