Elias suspirava por uma ocasião de poder estar a sós com Lúcia, e de declarar-lhe de viva voz o seu amor; mas essa ocasião por si mesma não podia oferecer-se. Todos os dias tomava a firme resolução de pedir furtivamente à moça uma entrevista, cujo lugar e hora já tinha premeditado. Mas, quando era ocasião de falar-lhe, um invencível acanhamento como que lhe paralisava a língua; receava profanar com aquele pedido a pureza Angélica daquela criatura.
Um dia enfim revestiu-se de ânimo a superar os seus escrúpulos.
- Ah! Se eu um dia pudesse falar sem testemunhas, e revelar-lhe tudo quanto sinto! - disse ele baixinho a Lúcia numa ocasião em que o pai se ausentara por um momento.
- Mas... isso... não pode ser, -murmurou Lúcia com voz breve e decisiva, mas cobrindo-se de tal vermelhidão, que se teria traído completamente, se ali houvesse olhos perspicazes e perscrutadores.
- Talvez possa – continuou Elias sorrindo. - Sei que a senhora passa às vezes horas inteiras sozinha na fonte do quintal. Ficará muito assustada, se eu um dia lá aparecer?
- Sem dúvida!... não; não vá; senão, nunca mais lá voltarei.
- Nada receie; eu a respeitarei tanto ou mais do que se estivéssemos aqui, em presença de seu pai.
- Não vá, não... tenho medo. Agora nunca mais irei lá sozinha.
- Perdão, minha senhora! Não lhe teria feito este pedido, se soubesse que me tinha tanta aversão.
- Aversão!...
Os tamancos do Major, ressoando no soalho, anunciavam a sua volta, e impuseram silêncio aos dois amantes.
No primeiro dia que se seguiu a este colóquio, Lúcia cumpriu restritamente a ameaça que fizera de não voltar mais à fonte; mas só Deus sabe quanto isto lhe custou. No segundo dia foi, porém acompanhada de sua irmã e de Joana; pensava seriamente nas consequências daquele passo, e tinha medo; mais o coração a arrastava para lá.