O Garimpeiro - Cap. 3: III- NA ROÇA Pág. 27 / 147

Elias, que tudo observava com a vista perspicaz do amante, que ouvia a voz dela, sentia-lhe os passos, e quase adivinhava quando estava em casa, e que, além disso, subindo um pouco pela encosta do espigão podia atravessar o estreito trilho que embrenhando-se pelo pomar ia ter à fonte não pôde deixar de manifestar seu descontentamento não por palavras mas por seu ar triste e taciturno.

Ao terceiro dia Lúcia não pôde conter-se, tomou sua cestinha de costura e lá desceu a sentar-se à sombra no gramal da fonte. Elias bem o pressentiu; mas era já muito tarde para ter tempo e dar as voltas necessárias a fim de ocultar seus passos; e portanto lá não apareceu.

- Cumpriu a sua promessa de não ir mais à fonte? - perguntou-lhe ele no outro dia à hora da lição.

- Cumpri sim senhor; sozinha não vou lá mais.

- Entretanto se me não engano parece-me que a vi ontem descer sozinha para lá.

- Quem? A mim? O senhor viu?...

- Sim, senhora, vi; e creio que era mesmo a senhora.

- Pode ser... à tarde faz tanto calor aqui em casa; e demais estou certa que o senhor lá não há-de aparecer, não é assim?

Elias sorriu-se, e Lúcia sentiu o rubor afoguear-lhe as faces.

Elias costumava caçar pelos campos do arredor, mui abundantes em perdizes, codornizes e outras caças.

No dia seguinte, logo após o jantar, arreou seu cavalo, pegou na espingarda, chamou seu cão, e saiu. Deu longas voltas para poder, sem ser observado, entrar pelo capão que desde as cabeceiras bordejava o córrego até os fundos do quintal. Apenas se embrenhou no mato, apeou-se, atou o animal a uma árvore, e desceu costeando o córrego por estreitos trilhos feitos pelos pés do gado e de animais silvestres.

Elias contava quase com certeza encontrar Lúcia na fonte, e não se enganou.





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