O Garimpeiro - Cap. 3: III- NA ROÇA Pág. 28 / 147

Ela já estava com efeito, não naquele doce descuido d’alma, em que a temos visto outras vezes, mas inquieta, anelante, como a corça espavorida, que cuida ouvir a cada instante o latir dos cães e as vozes do caçador.

A entrevista durou apenas alguns minutos. Elias, que tinha estudado mil frases apaixonadas, apenas disse, tomando-lhe a mão e beijando-a:

- Eis-me aqui, D. Lúcia; perdoe-me esta audácia... se soubesse quanto a amo!...

- O senhor é bem mimoso – disse ela entre risonha e enfadada. - Não lhe tinha pedido que não viesse aqui?...

- Bem lhe queria obedecer; mas o amor foi mais forte que eu. Vim para ouvir de seus lábios uma só palavra de que depende a minha felicidade, a minha vida. Diga-me, a senhora me tem amor?...

Lúcia hesitou um instante, fitou os olhos no chão, e murmurou timidamente:

- Muito!...

- Anjo! - exclamou Elias caindo a seus pés e procurando derramar em palavras de ternura o prazer que lhe transportava a alma; mas não pôde dizer mais nada. Quando o coração está cheio de felicidade, a vida toda se concentra ali, a cabeça fica erma de ideias, e a língua fica paralisada.

Mas Lúcia imediatamente o tirou daquele embaraço, dizendo-lhe com ar inquieto.

- Está satisfeito o seu desejo. Agora retire-se, retire-se quanto antes. A cada momento pode aqui chegar alguém...

E, tirando uma flor que tinha no cabelo, a entregou a Elias. Este enlaçando-lhe o braço em torno ao colo, tomou-lhe a mão e beijou- a com ardor. Foi tudo quanto ousou fazer.

- Adeus!

- Adeus!

Quando Lúcia, tendo dado alguns passos, voltou o rosto para ver ainda uma vez seu amante, avistou- o de joelhos, beijando a relva em que ela estivera reclinada. Fez-lhe vivamente aceno com a mão, para que se retirasse, e sumiu-se entre o laranjal.





Os capítulos deste livro