O Garimpeiro - Cap. 3: III- NA ROÇA Pág. 31 / 147

Sª. preveniu-me em um propósito que eu já há muito tinha formado. - Vejo que aqui em sua casa sou um ente inútil e que não é à sombra de seu telhado que poderia encontrar fortuna, nem felicidade.

- Agastou-se comigo?... não o estou mandando embora... é apenas um conselho e amigo.

- Não me agastei, Sr. Major; já lhe disse que era o meu propósito, só receava que V. Sª. o não aprovasse; agora, que sei o contrário, dê-me as suas ordens, que pretendo partir o mais breve possível.

Elias bem sabia o motivo daquele procedimento do Major, e nada tinha que lhe replicar. Era um modo polido de despedi-lo. De feito não era possível de modo mais benévolo e lisonjeiro cravar-se o punhal no coração de uma vítima. As palavras do Major caíram-lhe como rochedos sobre o coração com peso esmagador. Forçoso lhe era deixar Lúcia, talvez para sempre!

- Ah! Pobreza! Pobreza! Maldita pobreza- exclamou Elias em transportes de frenesi, entrando para o seu aposento. - Pobreza! Tu és o pior dos males que afligem a humanidade, pior que a fome, pior que a lepra, pior que a morte mesmo. De toda parte és repelida, como se fosse um mal contagioso.

»Além de faltarem ao pobre todas as comodidades materiais da existência, são-lhe vedados todos os prazeres do coração. O pobre não pode, não deve amar... Ah! Se eu fosse rico!... Por que não quis a sorte, que eu possuísse um pouco de dinheiro? Mas quem me impede de o ter? Os outros, que o ganham, são porventura melhores do que eu?... Sou moço, e, graça ao céu, tenho saúde, robustez e a inteligência necessária para saber ganhar dinheiro... A Bagagem está ali perto... é um garimpo riquíssimo... pouco custa cavar a terra, e lavar o cascalho. Major! Major!... Tu me expeles de tua casa por ser pobre..





Os capítulos deste livro