O Garimpeiro - Cap. 4: IV- O GARIMPO Pág. 39 / 147

A não me cair do céu, só do seio da terra poderia eu arrancar esse começo; os homens não mo dariam, e nem jamais lho iria pedir. Mas este chão ingrato é como o céu, surdo a meus rogos.

- E eu, patrão, tenho fé que deste chão mesmo é que havemos de arrancar, com o favor de Deus e Maria Santíssima, não digo um princípio de riqueza, mas uma riqueza inteira.

- E entretanto há seis meses que trabalho sem descanso, e em vez de princípio, aqui vim encontrar o meu fim, a morte de todas as minhas esperanças; aqui acabei, completei a minha miséria e minha desgraça.

- Meu amo hoje está muito abatido!... vá passear, vá girar o comércio. Vamos ter uma bonita noite. Vá divertir-se.

- Não, Simão; estou muito aborrecido, não tenho desejos de ver a cara de ninguém. Se queres, podes retirar-te.

- E o patrão o que fica fazendo aqui sozinho?

- Fico a tomar fresco por um instante, estou com a cabeça a arder-me.

Já era quase noite. Elias assentou-se numa pedra, e com a cabeça entre as mãos e os cotovelos sobre os joelhos, apenas se achou só, começou a desafogar suas mágoas, falando consigo mesmo e quase chorando de desespero.

- Já lá vão seis meses, e até hoje nada! nada absolutamente. Eu teria feito melhor, sem dúvida, se tivesse aventurado o pouco que possuía em uma mesa de lansquenê. Ao menos teria ganhado ou perdido depressa e sem trabalho esse pouco que tinha, e eu seria o único trabalhador... E que me importariam diamantes e todas as riquezas do mundo, se não fosses tu, Lúcia, que me acendeste no peito uma sede de riquezas, que eu nunca sentiria se não te conhecesse! Mas tu não tens a culpa, tu, a mais bela, a mais ingénua e a mais nobre das criaturas. A culpa é de teu avaro e ignóbil pai, que põe a preço de ouro a posse de tua mão.





Os capítulos deste livro