O Garimpeiro - Cap. 4: IV- O GARIMPO Pág. 40 / 147

E assim se profana vilmente, assim se vilipendia a sorte de um anjo sobre a terra. Estás calculada em ouro, e eu, desgraçado de mim! por mais que rogue ao céu, por mais que cave a terra, não posso achar esse ouro! Eu em vez de achá-lo, tenho cavado mais fundo ainda o abismo de minha miséria. Não importa! prosseguirei ainda. Já agora consome-se até às últimas a minha má sina. Já bem pouco me resta. Venderei meu cavalo, meus arreios, minha faca de prata, e darei tudo ainda a devorar a este maldito garimpo, que até aqui tão desapiedadamente me tem tratado. E quando evaporar-se a última esperança... as cachoeiras deste ribeirão são fundas e escabrosas, e minhas pistolas não negam fogo...

Elias ia talvez continuar aquele triste monólogo, inspirado pelo desespero, quando um som de passadas que se avizinhavam o fizeram levantar subitamente o rosto. Era um homem algum tanto idoso e bem trajado e de agradável presença, que a passos vagarosos se encaminhava para ele.

- Perdão- disse o desconhecido cumprimentando - Perdão, se o vim indiscretamente perturbar em suas tristes reflexões, e se, sem o querer, entrei no segredo de sua desgraça...

- Ah! o senhor ouvia-me?...

- Sim, senhor; mas sem o querer; espero que me desculpará...

- Sem dúvida; nem posso levar a mal o acaso que aqui o trouxe a ponto de ouvir as minhas loucuras. Demais a minha infelicidade, ainda que eu o queira, daqui em diante não poderá ser um segredo.

- Todavia não deixei de ser por demais curioso, eu o confesso. Eu estava ali entre aquelas burras apanhando algumas formações do cascalho e examinando-as, e ouvi tudo. Devia-me retirar, é verdade, mas o que ia ouvindo começou a interessar-me por tal sorte, que como a pesar meu fiquei pregado a escutá-lo.





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