melhor; e calo minha boca!
A escrava com quem Lúcia entretinha esta conversação era uma crioula algum tanto idosa, mas esperta, viva e palradeira: boa e fiel escrava, muito estimada de seus senhores e especialmente de Lúcia, a quem na infância tinha amamentado. As últimas palavras que dirigiu à moça foram proferidas com certa intenção, ao mesmo tempo que fitava nela um olhar malicioso. A moça compreendeu, corou e sorriu levemente, e tratou de desviar a conversa daquele assunto.
- Mas, Joana, eu tenho muita costura que fazer de amanhã em Dante, tu e a Paula hão de me ajudar, se é que querem ir à festa.
A estas palavras, as quatro ou cinco raparigas que ali se achavam também ocupadas na lavagem de roupa, acudiram a um tempo, a garrular como uma chusma de periquitos.
- E eu também estou aí, sinhazinha. Paula não é capaz de engomar melhor do que eu; sinhazinha há-de me levar, não é assim?
- E a mim também, sinhazinha, há que tempos que eu não vou à vila.
- Cala-te; você ainda outro dia foi a desobriga, e eu fiquei; agora é que eu devo ir, sinhazinha.
- E eu então? Vocês todas têm ido à vila este ano, e eu, pobre de mim, ainda nem para ouvir uma missa.
Lúcia via-se zonza no meio daquela algazarra de pedidos importunos que choviam sobre ela a um tempo a atordoar-lhe os ouvidos, como um bando de maritatacas.
- Pelo que vejo, vai a não ficar ninguém em casa! Hão de ir aquelas que for possível. Havemos de ver isso depois. Por agora tratem de seu serviço e não estejam a me aborrecer.
Estas palavras, a que Lúcia então procurava dar um tom severo, não produziram senão um efeito passageiro. A tagarelagem e as importunações continuaram na mesma, daí a pouco, e não teriam fim, se o sol que se ia escondendo atrás das colinas não viesse avisar que era tempo de se recolherem.