O Garimpeiro - Cap. 1: I- A FAZENDA Pág. 6 / 147

As negras trataram de arrumar a roupa em gamelas e balaios, que puseram na cabeça; Lúcia tomou em um dos braços seu balainho de costura, deu a mão à sua irmãzinha, e todo aquele alegre e interessante grupo a um de fundo foi desaparecendo por entre o laranjal.

Daí a pouco ouvia-se a sineta da casa chamando a família e os escravos para a reza da Ave-maria, e ao som dessa reza, dos últimos cantos do galo e dos gorjeios do sabiá, enviando à tarde um derradeiro adeus, a paz e a benção do céu desciam nas asas cinzentas do crepúsculo sobre aquelas tranquilas solidões.

Lúcia tinha dezoito anos; seus cabelos eram da cor do jacarandá brunido, seus olhos também eram assim, castanhos bem escuros. Este tipo, que não é muito comum, dá uma graça e suavidade indefinível à fisionomia.

Sua tez era o meio termo entre o alvo e o moreno, que é a meu ver, a mais amável de todas as cores. Suas feições, ainda que não eram de irrepreensível regularidade, eram indicadas por linhas suaves e harmoniosas. Era bem feita, e de alta e garbosa estatura.

Retirada na solidão da fazenda paterna, desde que saíra da escola, Lúcia crescera como o arbusto do deserto, desenvolvendo em plena liberdade todas as suas graças naturais, e conservando ao lado dos encantos da puberdade toda a singeleza e inocência da infância.

Lúcia não tinha uma dessas cinturas tão estreitas que se possam abranger entre os dedos das mãos; mas era fina e flexível. Suas mãos e pés não eram dessa pequenez e delicadeza hiperbólica, de que os romancistas fazem um dos principais méritos das suas heroínas; mas eram bem feitos e proporcionados.

Lúcia não era uma dessas fadas de formas aéreas e vaporosas, uma sílfide ou uma baiadeira, dessas que fazem o encanto dos salões de luxo.





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