Desculpe-me esta franqueza; eu não devia ocultar-lhe as minhas circunstâncias, porque não me ficaria airoso dar-lhe a minha filha em casamento, sem que o senhor soubesse que casava-se com a filha de um miserável.
- Miserável... não diga tal, senhor major! isso nunca! mas, ainda que fosse um mendicante, mesmo assim eu teria orgulho de ser esposo de sua filha.
- Mas a desonra... bem sabe que o público é implacável para com o negociante ou especulador infeliz.
- Qual desonra, senhor Major! o mau sucesso de uma especulação, contanto que seja lícita, não desonra a ninguém. Não se acovarde por essa forma... não faltarão meios de reabilitar-se. Tranquilize-se; o público e o comércio não serão tão desapiedados como pensa. Pode-se fazer com seus credores um convénio que salvará tudo. Eu me entenderei com eles, e, graças a Deus, estou em circunstâncias de lhe poder ser útil sem sacrifício meu.
Dir-se-ia que o Major mui de propósito fazia aquela confidência a seu futuro genro para sondar sua generosidade e provocar o seu oferecimento.
Mas não era assim; o major fazia-lhe aquela revelação porque entendia que era de seu dever, e procedia por um impulso de franqueza que lhe era natural. A princípio, portanto, o generoso oferecimento do jovem baiano o perturbou e desconcertou algum tanto; mas depois penetrou-lhe na alma como o raiar de uma dupla esperança. Nesse enlace estava a felicidade da filha e a salvação de sua fortuna.
- Não, senhor! perdão! nem falemos nisso- replicou o Major algum tanto enfiado; - longe de mim a ideia de lhe ser pesado; e o que diria o povo?...
- E que tem o povo com os nossos negócios, e nós com o que ele dirá?
- Dirá, e com aparências de verdade, que contratando este casamento especulei com a sua generosidade.