À porta da loja de um dos mais abastados negociantes da Bagagem apeava-se um jovem viajante que, pelo primor de seu trajo e pela luzida bagagem que trazia, mostrava ser homem de fortuna. O tom familiar e o alegre alvoroço com que foi recebido indicavam ser ele um antigo conhecido do negociante.
- Oh! bons olhos o vejam, meu caro senhor Elias, exclamou o negociante abraçando- o com transporte. Não sabe que prazer me dá em torna-lo a ver. Veio mais bonito, mais sacudido, e pelo que vejo, fez fortuna lá por onde andou? !
- Não perdi meu tempo, louvado seja Deus!... respondeu o moço.
- Entre, entre; venha descansar; depois conversaremos. Mande desarrear seus animais; não consinto que vá pousar em outra parte.
- Obrigado; aceito o seu obséquio.
Tendo saído da Bagagem, levando na algibeira a miséria, e o desespero no coração, depois de dois anos de ausência, Elias voltava com a carteira recheada de boas dezenas de contos de réis, só respirando amor, esperança e felicidade. Com o coração alvoroçado e a transbordar de alegria, durante toda a sua longa viagem não pensava em outra coisa senão no momento feliz de tornar a ver a sua querida Lúcia, e chegara com a cabeça recheada dos mais brilhantes planos de ventura e de amor, planos que para ele já eram uma realidade, pois já estava vencida a barreira que os separava - a pobreza.
Meia hora depois, tendo já Elias acomodado sua bagagem, e dado as necessárias providências para o arranjo de seus animais, o negociante convidou- o para uma sala vizinha.
- Venha para cá tomar algum refresco; venha conversar um pouco, e contar- nos que tal é isso por lá; contam-se maravilhas.
- Temos tempo, meu amigo; tenho muito que contar-lhe, mas isso será com mais vagar. Venho de longe, e sou daqui; portanto julgo que tenho direito de perguntar primeiro por notícias da minha terra, que novidades há, se o comércio vai bem, se aparece muito diamante, etc.