Logo que a viu, tomou-se de uma paixão cega pela moça, não inspirada por um casto e sincero amor, mas filha desse desejo material e libidinoso das almas libertinas, e jurou possuí-la custasse o que custasse. Para logo conheceu a impossibilidade de seduzir e lançar no caminho da desonra aquela alma tão nobre, aquele coração tão casto. Mas o casamento, para Leonel, era um meio tão simples como outro qualquer de trazer-lhe aos braços a mulher que cobiçasse.
Abandoná-la depois, onde e quando quisesse, era para ele também negócio de bem pouca ponderação. Entregue à descuidosa cegueira que resulta da prosperidade e da opulência, nem pensava na possibilidade de encontrar naquelas paragens alguma das vítimas de suas fraudes, e quase que já nem se lembrava de Elias, e, ou ignorava ou já não se recordava de que país era ele. Estava além disso persuadido que nos sertões as leis e a justiça são impotentes contra quem quer que tenha na carteira algumas centenas de contos de réis.
O escandaloso incidente, que tinha tido lugar em casa do Major, fizera viva impressão no espírito da população, que em peso estigmatizava o ato violento de Elias. O Major, cheio de indignação e de susto ao mesmo tempo, era o mais empenhado em exigir a punição de tal atentado, a despeito da oposição de Leonel, que clamava em altas vozes que dispensava a vindita das leis, e que ali ou em qualquer parte saberia desforrar-se cabal e categoricamente.
Elias, que na Bagagem poucas relações tinha, passou aos olhos de todos por um louco, um desmiolado. O horrível logro de notas falsas, de que fora vítima no Sincorá, já tinha sido divulgado, mas nem assim o público quis se convencer que Leonel pudesse ter a mínima parte naquele acontecimento, tal era a satânica habilidade deste para embair a todos e captar a geral estima e confiança.