Esse fato, longe de escusar a Elias, serviu para explicar e confirmar a convicção em que muitos estavam, de que o rapaz endoidecera.
Ainda outra circunstância contribuiu para dar mais vulto a essa convicção.
O Major tivera a ingenuidade de revelar em presença de muitas pessoas a paixão de Elias por sua filha.
- Bem conheço o motivo de tudo isto, disse ele, este pobre rapaz há muito tempo gostava de Lúcia, e parece que tinha a louca pretensão de casar-se com ela. A paixão e o desejo transtornaram-lhe a cabeça, coitado! Tenho pena dele; mas não devo tolerar que fique impune semelhante desacato.
Assim o infeliz Elias, para cúmulo dos males, era objeto da compaixão desdenhosa de uns, dos motejos de outros, e do ódio de alguns. Somente o negociante, em cuja casa se hospedara, e a quem tinha contado sua triste aventura, tinha motivos para não acompanhar a opinião do vulgo; mas, homem de espírito fleumático, não querendo ir de encontro ao parecer de ninguém, guardava para si sua convicção, esperando que o tempo viesse deslindar aquele negócio, o que julgava que não poderia tardar muito.
- Tantos contratempos viraram-lhe a bola, dizia um.
- Era um rapaz pacífico e prudente, ajuntava outro, não sei que diabo lhe entrou na cabeça para fazer aquela estrada!
- Coitado... - observava outro, - de um dia para outro viu-se roubado em tudo que possuía, e atraiçoado em seu amor... o caso é mesmo para enlouquecer.
Assim, enquanto Leonel campeava insolente e orgulhoso, protegido pela estima e simpatia geral, Elias jazia em uma prisão, como um pobre maluco, que apenas merece um pouco de compaixão.
Do seio de sua prisão Elias formulou uma denúncia contra Leonel. Mas Elias era um maníaco; as autoridades desprezaram a denúncia, embora estivesse concebida nos termos mais sensatos e procedentes.