Já pelas ruas lhe tinham constado os antigos amores de Lúcia e Elias, e posto que esse rumor vago não fosse ainda um motivo bastante sólido para determinar um rompimento, todavia Leonel estava disposto a prevalecer-se dele, e agarrar-se a essa única tábua de salvação que a sorte lhe deparara.
Pode-se pois calcular com que íntima e viva satisfação saiu da casa do Major, posto que levasse no rosto a máscara da tristeza, depois que a revelação de Lúcia, posto que resultado do delírio, veio romper de um só golpe todas as malhas da rede terrível em que tão imprudentemente se tinha enleado.
A visita de Leonel foi feita pela manhã; o pai de Lúcia não estava em casa. Nessa mesma tarde Leonel voltaria para retirar sua palavra, desfazer o contrato, e despedir-se, e nessa mesma noite desapareceria da Bagagem; tal foi o projeto, que imediatamente formulou em seu espírito.
Elias, ao sair da prisão tratou imediatamente de abandonar aquela terra, onde tinha visto quebrarem-se um por um todos os elos da cadeia dourada de seus sonhos, terra de maldição, como dizia ele, coito de fariseus vis e desalmados, que só rendem culto ao ouro e ao diamante, e que seriam capazes de entregar até o próprio Cristo, se entre eles aparecesse, à sanha de seus algozes por um punhado de ouro. Despediu os camaradas que ainda lhe restavam, vendeu animais e bagagens que lhe eram desnecessários, e, sem nada dizer, nem despedir-se de ninguém, montou a cavalo sozinho e subiu pelo caminho que vai para o Patrocínio. Essa estrada passava pela frente da casa de Lúcia a algumas braças de distância. Ao avista-la, Elias sentiu um horrível aperto de coração. Mas um irresistível atrativo como que o detinha ali; retardou o passo do animal, e perscrutou com as vistas todos os lados da casa a ver se avistava Lúcia, ou alguém da casa; não viu ninguém.