O Garimpeiro - Cap. 12: XII – MOEDEIRO FALSO Pág. 95 / 147

Aplicou o ouvido à escuta de alguma voz, de algum rumor, que dali partisse; mas reinava na casa o maior silêncio e quietação, como se nela ninguém morasse. Ainda mais se lhe anuviou o coração de melancolia.

- Adeus, Lúcia! adeus! - murmurou o moço lançando um triste e derradeiro olhar sobre a casa do Major. - Perdoa o estouvamento que cometi; não serei eu mais que irei perturbar teu sossego e tua felicidade. Mas ah! queira Deus que em breve não experimentes o rigor do castigo do céu. Adeus! - E esporeando o cavalo desapareceu na mata pelas voltas do caminho.

Na tarde desse mesmo dia Leonel, montado em um lindo ginete, subia o caminho da encosta que o conduzia à casa de Lúcia. Ia desfazer o contrato de casamento, e despedir-se, e ia altivo e resoluto, porque de feito o motivo que tinha para assim proceder era o mais legítimo e nobre; mas tal motivo não bastaria para demover de seus perversos desígnios aquela alma obcecada e habituada ao crime, se não fora o risco que corria sua pessoa demorando-se por mais tempo na Bagagem. Sua intenção era desaparecer nessa mesma noite, para o que já dera as necessárias providências.

Para arredar de si qualquer suspeita, deixaria uma carta para ser apresentada a todos os seus amigos, na qual lhes faria ver que retirava-se porque não lhe era possível, nem lhe ficava airoso por modo nenhum demorar-se, nem mais um instante, em uma terra onde acabava de ser vítima do mais escandaloso desacato e do mais profundo dissabor por que pode passar o coração do homem. Levava contudo a mais grata lembrança daquele país e de seus habitantes, e protestava seu reconhecimento a todos que o honraram com sua amizade.

Exultando com o acontecimento que lhe dava tão plausível motivo de pôr-se a salvo sem despertar suspeitas, o jovem baiano chegou à porta da casa do Major.





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