Coração, Cabeça e Estômago - Cap. 6: CAPÍTULO II - PÁGINAS SÉRIAS DA MINHA VIDA Pág. 105 / 156

Se era a razão que me induzia com os seus cálculos egoístas a tomar o meu quinhão daquilo que o vulgo chama senso comum, já sabem que consequências eu vou tirando das minhas racionais primícias. Vi três mulheres à luz serena do raciocínio. Saiu-me parva a primeira, a ponto de me obrigar, sendo eu em extremo delicado, a perguntar-lhe se gostava de caldo de repolho. A segunda, para me humilhar e abater o orgulho, deu-me em Josino um rival preferido. Esta terceira, a Mariana dos olhos doces e jeitos de inocência lorpa, vão agora saber no que deu.

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Grandes considerações!

Entendem cordatos fisiologistas que o amor, em certos casos, é uma depravação do nervo ótico. A imagem objetiva, que fere o órgão visual no estado patológico, adquire atributos fictícios. A alma recebe a impressão quimérica tal como sensório lha transmite, e com ela se identifica a ponto de revesti-la de qualidades e excelências que a mais esmerada natureza denega às suas criaturas diletas. Os certos casos em que acima de modifica a generalidade da definição vêm a ser aqueles em que o bom senso não pode atinar com o porquê de algumas simpatias esquisitas, extravagantes e estúpidas que nos enchem de espanto, quando nos não fazem estoirar de inveja.

E tanto mais se prova a referida depravação do nervo que preside às funções da vista quanto a alma da pessoa enferma, vítima da sua ilusão, nos parece propensa ao belo, talhada para o sublime e opulentada de dons e méritos que o mais digno homem requestaria com orgulho.

Se me desarmam deste convencimento, cimentado em doze anos de experiência e observações, não sei como hei de explicar o amor de D. Rita Emília ao Dr. Anselmo Sanches.

Defendo-a desta vergonha como defenderia o réu de um crime extremamente execrável.





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