É o luxo o estímulo das artes e da circulação do numerário - dizem os economistas infalíveis. A pataratice é a arte amestrada pelo aguilhão do luxo. Ora, se o mundo elegante é o consumidor das espécies, que constituem o luxo, e o fomentador da prosperidade das artes, segue-se que o mundo elegante é o mundo patarata.
Crê nisto toda pessoa que já ouviu dizer que há uma coisa chamada lógica pela qual se prova que o mundo cabe num cesto, se o cesto for maior que o mundo.
A elegância também é sinónimo de beleza.
A sociedade elegante não pode ser substancial e formalmente a sociedade bela.
A tomarmo-la assim, fumigaríamos com incenso derrancado olfatos modestos que já espirrariam contra a lisonja.
A lisonja é a assa-fétida das boas almas, das almas escolhidas, ou elegantes.
Na sociedade escolhida há pessoas que têm a consciência de serem feias.
Aí se compreendem todas as caras possíveis desde a malaia até à georgiana.
Todas as inteligências imagináveis.
Todas as progénies admissíveis na ordem da propagação.
Todas as virtudes, ainda as mais hipotéticas.
Há uma sociedade que não tem obrigação de ser outra coisa logo que é elegante.
A sua missão é andar à tona do mar revolto da vida como as alforrecas.
O pássaro é um animal volátil, o peixe é um animal nadador, o réptil é um animal rasteiro, o elegante é um animal... elegante.
Diz A. Karr que Deus fizera a fêmea e o homem fizera a mulher.
Ora, a mulher não se limitou a fazer do macho um homem: fez uma brochura dependente do engenho do encadernador.
O espírito subiu da glândula pineal para o frisado; o entendimento desceu a reluzir no polimento das botas; o coração entumecido enfumou os bofes da camisa; as aspirações grandiosas acolchetaram-se à abotoadura dos diamantes; os apertos de alma atribulada passaram para o atesamento da luva.