Não é costume nosso matarmo-nos quando o aborrecimento da vida nos enjoa.
Em país algum seria maior a estatística dos suicídios do que em Portugal, se o tédio nos vencesse.
E no Porto?
Deus nos livre disso!
O vestíbulo do teatro lírico seria em cada noite um cemitério; nos bailes, a cada instante, se ouviria a denotação de um tiro; as senhoras levariam cristais de ácido prússico para se matarem ao cabo da tediosa parolice do par dançante; do Jardim de S. Lázaro, aos domingos, iria o pároco levantar algumas dezenas de cadáveres; os próprios templos onde há organistas seriam borrifados de sangue suicida.
Aqui no teatro não se morre de tédio; mas abre-se a boca e buzina-se um vagido sonolento.
No baile ninguém se mata; mas devoram-se gelados para apagar o vulcão da ideia suicida, ou abarrota-se o estômago de sanduíches para que a alma bruta predomine sobre a outra, ou tresfega-se a garrafeira do dono da casa para alucinar e entreter o espírito, como coisa exótica, do ar artificial de uma estufa.
Mas estes remédios não passam de paliativos. A reação, depois, é pior. Falecida a vida de empréstimo, o espírito fica letárgico, marasmado e até inábil para exercer as funções da presidência de uma câmara municipal.
Depois do artigo de fundo, a coisa que mais brutaliza a alma é a melancolia.
O poeta, que vos encampa as suas amarguras em redondilha maior, escreveu as trovas, com ânimo folgado, no intervalo de duas orgias.
A melancolia é sorna e estéril. Camões escreveu a sua epopeia nos dias da esperança.
Quando a tristeza desanimadora o entrou, já não pôde escrever para o fidalgo, que lha pedia, uma paráfrase dos salmos.
Uma inteligência em quietismo não danifica os interesses materiais de um país, e até certo ponto