Este alvitre criou-lhe créditos, que foram um espeque à sua reputação algum tanto abalada com o facto de consumir os dinheiros do cofre municipal na reconstrução do caminho da sua exclusiva serventia. Mais meiga lhe soprou a aura popular, quando ele, mediante a solicitude do deputado, que fizera eleger, conseguiu que o conselho de Carrazedo absorvesse, na divisão do território, outro conselho limítrofe.
Nas próximas eleições, Silvestre da Silva, sem inculcar-se aos povos, nem recomendar sua candidatura, foi eleito deputado, contra a vontade das autoridades.
Tomásia, sabendo que o seu marido se afastava dela no segundo ano de casada, fez tamanha e tão sincera choradeira que Silvestre desistiu da candidatura e fez que no escrutínio suplementar saísse deputado o juiz eleito,
que também não serviu por se ter recusado a prestar o juramento, como legítima que era de entranhas.
O Governo chamou ao seu partido a influência de Silvestre e conseguiu fazer eleger no seu círculo um candidato desconhecido dos eleitores. Ganhou com isso o genro do sargento-mor uma comenda para seu sogro e outra para ele, e uma abadia pingue para o padre Atanásio, tio da sua mulher. Em consequência do que todos os padres voltaram a sotaina e proclamaram a legitimidade da Senhora D. Maria II, com grande desgosto do juiz eleito, que rompeu relações com a família dos renegados, ou arrenegados, como ele dizia.
Desta desavença resultou que os jornais do Porto agrediram Silvestre da Silva, acoimando-o de desviar os dinheiros do Município em benefício das suas propriedades.
Agora é tempo de dizer que Silvestre saíra muito empenhado do Porto e os credores o tinham em conta de insolvente por saberem que a sua pequena casa estava hipotecada a dívidas mais antigas.