E estoutra Laura, tão sua,
Quer fazê-la eterna em verso;
E, quando pensa que atua
Na admiração do universo,
Não o conhecem na rua.
Trinta cadernos apronta
De pavorosa escritura,
Tira prospetos por conta
De equívoca assinatura,
Que por um terço desconta.
Sai a lume, e em trevas morre,
Filho da asneira e do amor,
livro que insónias socorre;
Mas quem risco amargo corre
É decerto o impressor.
Entretanto, a virgem meiga
Os versinhos, doce prenda,
Cada vez mais n'alma arreiga,
A tempo já que na tenda
Se embrulha nela manteiga.
Vive na fé, todavia,
Que do amante a loquaz fama,
Que até aos astros a envia,
Já seu talento proclama
Muito além da freguesia.
E, convicta disto assim,
Tendo-se em conta de eterna,
Julga ser mister ruim,
Coser ceroula paterna
Ou remendar o carpim.
Infeliz pai!, que aflições
Não tens tu de amargurar
Ao tirar dos gavetões
A peúga sem calcanhar
E a camisa sem botões!
Em velhice desditosa,
Dói-me ao ver-te submerso!
Enquanto a filha radiosa
Se fez imortal em verso,
Morres tu em chilra prosa.
Mas, ó patusca poesia,
És a varinha de condão,
És no deserto água fria,
És tábua de salvação,
És farol que à Pátria guia!
Sem ti, doce companheira,
Amiga, sócia fiel,
A fábrica da Abelheira
Não venderia o papel,
Nem teria prémio a asneira.
Nem seria a mulher rola,
Nem celeste o seu sorriso,
Talvez fosse menos tola,
E tivesse mais juízo;
Mas isso de que consola?
Aí têm as futilidades com que, a grandes intervalos de tempo, se saía aquele espírito, que também sorteado entrara na república das letras! Vejam como se descompadecem a felicidade estúpida do marido de Tomásia e o engenho! Quão melhor lhe fora pedir ele à