Para ouvir a opinião pública, perguntei a diferentes elegantes quem fosse a mulata, e todos. À uma, me responderam que era filha de um titular brasileiro e que fora educada em Londres.
Não desmenti a opinião pública. Seria uma ingratidão à mulher que me ergueu dos seus pés, quando eu lhe pedia o seu amor com lágrimas. Se eu fosse opulento como o homem vindo do Brasil, talvez que ao lado dela, no camarote de S. João, estivesse eu, e não ele.
Falta-me falar da sétima mulher.
***
Eu tinha um amigo que se namorara de uma modista francesa e me pedia que fosse intérprete do seu coração, na língua de Vítor Hugo. Não me pareceu custoso fingir a língua de Vítor Hugo, sendo a semelhança julgada pela modista. Parece- me que Vítor Hugo não entenderia as minhas cartas escritas no seu idioma; quero, porém, acreditar que a francesa não acharia mais poesia nem mais correção raciniana no poeta das Orientais.
As minhas cartas pertenciam ao sistema que os mestres em epistolografia amorosa determinaram para as modistas. Era o sistema da precipitação dos sucessos e da catástrofe. À oitava carta, convencionou-se o encontro do meu amigo com a francesa numa quinta em Carnide, indo ela acompanhada de uma sua amiga na carruagem, que devia esperá-las à porta oriental do Passeio Público.
- Como há de ser isto?! - disse eu ao meu amigo -; como te hás de tu entender com ela?
Cibrão ficou um pouco enleado e respondeu:
- É verdade!... como hei de eu entendê-la!... Há quinze dias que comprei um dicionário português-francês e uma guia de conversação; mas pouco ou nada sei...
- Como há de ser isto? Eu acho ridícula a tua posição se , às primeiras palavras da francesa, tens de lhe dizer, numa língua que ela não entende, que não percebes a língua que ela te fala.