Ainda lhes não tinha dito que a folha do Brasil era extremamente engraçada, esperta e maliciosa. Aquelas poucas palavras bastam a defini-la.
Chegou o dia em que ela me havia de mostrar D. Martinha no momento em que mais digna fosse da minha compaixão.
Desceu a mulata do terceiro ao segundo andar e disse-me: “Siga-me pé ante pé.” Segui-a, e entrei numa alcova, que tinha portas cortinadas para uma saleta. A condutora afastou um todo-nada da cortina e mandou-me espreitar através da vidraça.
Vi D. Martinha despeitorada e reclinada sobre a otomana. Com os joelhos no estrado estava ele a calçar-lhe as meias nas pernas abandonadas aos seus carinhos. Ele, depois, estendeu-lhe os braços seio acima, abraçou-a pelo pescoço e apoiou a face na porção mais flácida do peito. Ele, depois... “Ele, quem?”, pergunta quem isto ler.
Era o tio, que dava o vinho de Setúbal aos domingos. Quando saí do observatório, inclinei o ouvido à mulata, que me dizia:
- É, ou não é, mais digna da sua compaixão do que nunca foi?
- E de nojo! - acrescentei.
Dois dias depois, tive de retirar da hospedaria, em razão de ter dito à Sra. D. Martinha que ela não valia as garrafas de Setúbal que lhe dava o incestuoso sexagenário.
A mulata... (agora me lembro que se chamava Tupinyoyo - que nome tão amável!) ficou de me visitar todos os domingos; mas ao terceiro, depois da promessa, contou-me um aguadeiro de um ricaço, vindo do Brasil, se apaixonou por ela e a levara consigo para o Minho.
Não mentiu o galego. Três anos depois a vi eu na segunda ordem do Teatro de S. João do Porto, vestida ricamente, ao lado de uma grande cabeça, que estava cotada na praça do Porto em dois milhões.
Viu-me, fitou-me; não sei se corou; o pudor naquela ordem de peles não sei a cor que toma.