Imitemos os bichos para sermos naturais alguma vez.
- Mas afinal - interrompeu Cibrão - que dizes tu?
Aconselhas-me que não vá a Carnide?
- Parecia-me imprudente...
- A boa hora me vens pregar prudências! Hei de ir, e tu vais comigo. Prometo dispensar os teus conhecimentos para me fazer entender. Conjugarei o verbo desde o tempo presente do modo indicativo até ao imperativo. Eu darei o braço à francesa e tu ficarás com a outra. A quinta está ajardinada com sombrinhas grutas de murtas; nestas grutas mora o amor; o amor nos ensinará a falar.
- Sendo assim... vamos.
E fomos.
A sege das meninas chegou pouco depois da nossa. Saltaram com buliçosa graça; e, sem biocos de cerimónia ou pudor (pudor!... é o que faltava!), nos tomaram os braços.
“Je vous aime”, disse Cibrão à risonha criatura, osculando-a base do nariz. “Je vous aimerai ‘ternellement”, prosseguiu ele, levando-a consigo a doces repelões, com a impetuosa ternura que eu imagino em Júpiter, feito boi, para arrebatar a Europa.
E eu, para também me parecer com Júpiter, fiquei dizendo suavíssimas endeixas em prosa mélica, como aquele famoso cisne as cantava a Leda.
O meu amigo, com a sua flexível haste de tarlatanas e grinaldas artificiais no chapéu, desapareceu nos caramanchéis das murtas, onde o amor os esperava para lhes ensinar a vernácula linguagem.
A francesa, que me escutava as maravilhas amorosas em vasconço, era uma esbelta rapariga que devia ter sido muito festejada no seu Paris, antes dos trinta anos, e viera naturalmente reflorir a estranhos climas, em país de tolos, como este nosso, tolos esquisitos que, até no amor, adoram o galicismo, ainda mesmo que, na boa linguagem francesa, ele já tenha caído em desuso por antiquado e de mau quilate. Mademoiselle Florence Carlin era termo obsoleto lá na sua terra.