Com este errado juízo, entendi em mandar a Paula.
Festões, grinaldas, passarinhos, frutos,
E capelas de búzios e de conchas.
Acorçoado pelo Ovídio português, comprei na Praça da Figueira muita flor, de que mandei tecer uma grinalda, muito de ver-se; num cabazinho de palha italiana dispus seis pêssegos aveludados, de cobiçável frescura; búzios não me foi possível arranjá-los, nem conchas; no tocante, porém, ao preceito dos passarinhos, fui muito feliz: comprei um lindo periquito na Rua do Arsenal.
Fiz mais.
Chamei à puridade uma jovem e sécia saloia de Benfica, brindei-a com a saia escarlate listrada e um corpete de castorina amarela; enflorei-lhe os cabelos e enramalhetei-lhe o colo. Nunca vi coisa mais fresca, nem mais bucólica medianeira do amor de um sátiro urbano a uma ninfa saturada da lição de maviosos idílios, como é já notório.
Industriei a rapariga no modo de apresentar à fidalga
Festões, grinaldas, passarinhos, frutos.
Devia ser à hora em que ela descia ao jardim, que uma gradaria separava da estrada. Melhor do que eu antevira se ocasionou a oportunidade da entrega. D. Paula reparou na esbelta saloia, que tinha numa das mãos o cabaz e na outra a gaiola.
- Ai! Um papagaio! - exclamou a menina. - Isso é para vender?
- Não, minha senhora - disse a saloia -, é para dar à senhora fidalga.
- A mim?! Quem me manda isto?!
- Vossa Excelência verá numas letrinhas que vêm aqui entre as flores.
- Letrinhas!? Quem é que me escreve? Você não sabe o nome da pessoa?
- Não, minha senhora: mas o senhor que me cá mandou disse-me que aceitasse Vossa Excelência o periquito, e as flores, e os pêssegos, e, se não quisesse a carta, que a rasgasse.
- Os pêssegos! - exclamou a fidalga. - Quem é que me manda pêssegos?!
- É ele - disse a saloia.