Eu fui recuando até ao cantinho da casa e encolhi-me a tremer e a chorar.
Parece que o homem teve piedade de mim. Esteve a olhar-me com ar melancólico, sentou-se e limpou o suor da testa.
Perguntou-me quantos anos tinha; se a minha mãe nada me tinha dito a respeito de uma visita; se eu antipatizava com ele; se eu queria sair de tanta pobreza e da companhia da minha mãe, que me vendera e que tencionava viver do preço da minha honra.
Eu respondi soluçando a tais perguntas. O homem, que se mostrava condoído, chegou a chamar-me para junto dele, oferecendo-me uma cadeira. Fui sentar-me com muito medo; mas tranquilizei-me algum tanto quando vi que me não lançava as mãos. Uma vez que ele se inclinou para mim, deitando-me o braço à cintura, ergui-me de salto e ajoelhei, pedindo que me deixasse. Ergueu-me com brandura e disse-me: ‘Esteja sossegada, que eu não lhe faço mal’ - e passados instantes continuou: ‘A sua felicidade não é eu deixá-la; porque amanhã a sua mãe a venderá a outro homem que se não compadeça da sua inocência e lhe despreze as lágrimas. A sua posição, menina, é muito desgraçada nesta casa. Eu vinha preparado para encontrá-la bem disposta a ceder ao destino que a sua mãe lhe deu; vejo que não é fingida a sua dor. Quer, Marcolina, salvar-se das grandes vergonhas que a esperam? Saia já desta casa, aceite a minha amizade; venha para minha companhia, e depois pensará no que melhor lhe convier para ser menos infeliz. Confesso-lhe que a sua beleza me encanta; mas já não serei capaz de a querer sem que o seu coração a leva a ser minha amiga.’
Continuou a falar neste sentido longo tempo; e a final estando já de pé para sair, lançou-me ao regaço dinheiro em ouro e disse: ‘Quando a sua mãe vier, diga- lhe que está pura, peça-lhe que não a venda, e obrigue-se a sustentá-la com a condição de não a vender.