Esse dinheiro é o necessário para um mês; no princípio do mês que vem receberá igual quantia.’ E saiu, beijando-me na testa e murmurando, quando me viu estremecer ao contacto da sua boca: ‘Pobre menina!’
- Era novo esse sujeito? - interrompi.
- Não, senhor. Teria cinquenta anos.
- Continua. A tua mãe quando chegou...
- Viu o ouro sobre a mesa e fez-se escarlate de infernal alegria. Olhou para mim e disse: ‘Não estás mal comigo?’ Rompi num choro, que me afogava. Quis ela abraçar-me, chamando-me tola com modos carinhosos, e eu fugi para a alcova onde minhas irmãs estavam assentadas no enxergão.
- Das tuas irmãs, uma já devia ter treze anos nesse tempo.
- Essa não vivia connosco.
- Que destino tinha tido?
- O que a minha mãe quiser dar-me. A mãe disse-me que ela estava na Casa Pia; mas, alguns meses depois, soube que ela estava na situação em que estou hoje.
- E está ainda?
- Não, senhor. Morreu de dezasseis anos.
- No hospital?
- Não, senhor, na minha casa.
- E as outras irmãs?
- Logo lhe direi.
***
- A minha mãe quis que eu lhe contasse o que se passara entre mim e o Sr. Barão.
- Ah!, era barão, o sujeito?!
- Era barão; mas não o maldiga, que tinha boas qualidades.
- Veremos... Por enquanto, não há razão de queixa. Ora diz o mais.
- Contei à mãe o sucedido; menos o modo como ele me falara dela. Ouviu- me com admiração e disse-me: “Se eu soubesse que ele tinha palavra e te dava mesada, saíamos destas águas-furtadas e podíamos viver regaladamente.” Acrescentou a estas palavras um plano vergonhoso que devia enriquecer-me em poucos anos. Faz-me horror o que lhe ouvi!
No dia seguinte, a minha mãe comprou-me um vestido de cassa, um mantelete em segunda mão, um chapéu de palha e outras miudezas. Mandou-me pentear, e vestir, para darmos um passeio.