Quando silva da pita o agudo estalo
Donzelinha não há que não sacuda
A ceroula do pai, para espreitá-lo,
Tingida do pudor, que o gesto muda;
Enquanto ele lhe mostra o dente amante,
Que outrora adorno foi de um elefante.
Nestes meses de Inverno, o reumatismo
Costuma apoquentá-lo; e ele afeta
Que está numa razão de cepticismo,
E rebate do amor a doce ceia.
Diz que o seu coração é fundo abismo,
Onde entesoura imagem predilecta
Da mulher que há de vir; e, à vista disto,
Presume-se que vem co Anticristo.
Mas, apenas repinta a Primavera
Espargindo matiz de lindas flores,
Josino sai da cama, onde gemera,
E remoça nutrindo outros amores.
Ludibrio miserando da quimera,
Que o mangara no leito d'agras dores,
Ei-lo, de novo, em coração repoisa
De menina, que pese alguma coisa.
Não pensa que perdeu do seu quilate
Enquanto pode as rugas rebocar.
Diz sempre que lá dentro ainda lhe bate
O quer que seja, que precisa amar.
Assim, como quem diz um disparate,
Pergunta se será néscio em casar:
Conta os logros, que fez, nunca sabidos,
E teme a previdência dos maridos.
Sem embargo, porém, deste palpite
Josino vai pedir a mão de esposa
A formosa menina, das do elite,
Que a detracção abocanhar não ousa.
Assente o pai ao digno convite,
Que é pássaro bisnau, velha raposa,
E vira um vulto de homem presumível
Sair do quarto dela(ó vista horrível)
Josino, alfim, casou, e partiu logo
(Ah!, que não sei de nojo como o conte!)
Todo ânsia, paixão, ardor e fogo,
Com ela para o Bom Jesus do Monte.
Ai!, que lua-de-mel, que desafogo
De cadente paixão ao pé da fonte,
Que trépida repete em magno anelo
As falas que murmura o Esganarello.
Esganarello... sim!...
(Se saber quer Alguém, que o não conhece, aquele herói,
Procure-o, que há de achá-lo em Molière,
Ou lá na vizinhança.