Robinson Crusoe - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 204 / 241

Retorquiu-me, com muita candura e ingenuidade, que a condição deles era tão miserável e que estavam tão fartos dela que repeliriam com horror a ideia de maltratar uma pessoa que contribuísse para a sua libertação; que, além disso, se eu quisesse, iria avistar-se com eles na companhia do velho selvagem, comunicar-lhes-ia as minhas ofertas e dar-me-ia a sua resposta; que nunca aceitaria qualquer negociação a não ser sob juramento solene de que se submeteriam sem reservas à minha autoridade, como dono e comandante; que lhes faria jurar sobre o Evangelho e pelos Sagrados Sacramentos que me seriam fiéis e iriam a qualquer-país cristão que eu quisesse, e não a outro, e que se deixariam dirigir completa e absolutamente pelas minhas ordens, até eu abordar são e salvo o país que designasse, e que me traria este compromisso assinado por todos. Depois, acrescentou que ele queria ser o primeiro a jurar; que enquanto vivesse não se separaria de mim, salvo se eu lho ordenasse; enfim, que verteria a meu lado até à última gota de sangue se alguma vez faltasse à fé jurada por algum dos seus compatriotas.

Garantiu-me também que todos eram muito honrados e probos; que se achavam então em enorme dificuldade, faltos de armas e de vestuário, apenas tendo por alimento o que os selvagens lhes queriam dar, que tinham perdido a esperança de voltar ao seu país e que me assegurava que estariam todos prontos a viver e morrer por mim se pusesse termo às suas desgraças.

Com esta segurança, aventurei-me a enviar o espanhol e o velho selvagem para tratar com eles. Mas quando estava já tudo preparado para a partida, o próprio espanhol descobriu uma dificuldade, que me deu a conhecer a sua prudência e sinceridade, e ficar plenamente satisfeito. Por conselho seu adiei a libertação dos seus companheiros para dali a seis meses, pelo menos; eis porquê.

Havia cerca de um mês que vivia comigo, e tinha-lhe ensinado de que maneira, com a ajuda da Providência, satisfizera as minhas necessidades.