É impossível contar a alegria que senti ao ver-me livre da situação miserável em que me encontrava; imediatamente ofereci ao comandante do buque tudo quanto tinha, como preço da minha salvação. Mas ele, generosamente, não quis aceitar nada, e respondeu-me que todos os meus pertences me seriam devolvidos no Brasil.
- Ao salvá-lo - disse-me -, nada fiz que não quisesse que também me fizessem a mim, e não sei se algum dia me verei reduzido a tão miserável posição. Por outro lado, se depois de conduzi-lo a um país tão afastado do seu como é o caso do Brasil, me apoderasse de tudo quanto possui, o senhor morreria de fome, e isso seria tirar-lhe de novo a vida depois de lha ter dado.
Não, não, senhor inglês - continuou -, quero transportá-lo para o dito país por pura humanidade, e o que me ofereceu servirá para pagar a sua manutenção e assegurar o seu regresso.
Aquele homem não desmentiu a sua generosidade; cumpriu todas as promessas; proibiu os seus marinheiros de tocarem no que me pertencesse; guardou tudo como se fosse um depósito e entregou-me um inventário exacto, no qual se incluía tudo, até os meus três tonéis, para que eu pudesse reclamar à minha chegada ao Brasil a totalidade dos meus bens.
Quanto à chalupa, como era muito boa, propôs-me que lha vendesse para serviço do seu buque e perguntou-me quanto queria por ela. Respondi-lhe que havia sido tão generoso para comigo que não desejava atribuir-lhe um preço, deixando-o ao seu critério. Propôs entregar-me oitenta duros por meio de uma letra pagável no Brasil, acrescentando que, se alguém desse mais à minha chegada, teria em conta a diferença. Ofereceu-se para me comprar o jovem Xuri por outros sessenta duros, mas vacilei, não porque temesse deixá-lo ao comandante, mas porque não podia resolver-me a vender a liberdade daquela pobre criança que me tinha ajudado com tanta fidelidade a recuperar a minha.