Robinson Crusoe - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 209 / 241

Não posso exprimir qual foi, nessa altura, a minha perturbação. Embora a alegria de ver um barco tripulado por compatriotas e, consequentemente, por amigos, fosse tal que impossível se me torna descrevê-la, mesmo assim, dúvidas confusas, das quais não podia dar-me conta, aconselhavam-me a ser circunspecto. Reflecti primeiramente sobre quais os negócios que teriam podido conduzir um buque inglês àquela parte do mundo, que não era caminho, quer para ir, quer para voltar, de nenhum dos países com os quais a Inglaterra mantém relações de comércio. Sabia, por outro lado, que nenhum temporal os forçara a dirigirem-se para a minha ilha; se fossem, pois, verdadeiramente ingleses, podia imaginar-se que não viriam com boas intenções, e pensei que valia mais continuar o meu género de vida do que cair em poder de bandidos e assassinos.

Vi, dentro de pouco tempo, que a chalupa começara a costear, como que à procura de uma enseada onde pudesse abordar; como, todavia, os homens que a tripulavam desconheciam aquelas paragens, não avistaram a pequena baía onde outras vezes eu desembarcara as jangadas; contentaram-se em puxar pela chalupa até ela encalhar na areia, a meia légua de mim, o que foi uma sorte, pois de outro modo teriam, por assim dizer, desembarcado à minha porta, correriam comigo do meu castelo e, muito possivelmente, despojar-me-iam de tudo quanto possuía.

Quando saltaram em terra convenci-me plenamente de que eram ingleses ou, pelo menos, a maior parte deles. Um ou dois pareceram-me holandeses, o que não foi assim. Ao todo eram onze homens, dos quais três estavam desarmados e amarrados, conforme pude notar; e, logo que saltaram, os quatro ou cinco tripulantes fizeram sair da barca os que estavam amarrados. Vi um deles demonstrar por intermédio de gestos apaixonados a sua dor e desespero, de tal modo que raiava a loucura. Os outros dois, conforme pude perceber, erguiam as mãos ao céu de vez em quando e pareciam muito aflitos, mas não tanto como o primeiro.

Mantive-me confuso perante tudo aquilo, e não soube que pensar.





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