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Capítulo 3: Porque sou tão sagaz

Página 26
Faltava toda a delicada autonomia, outra forma de protecção do instinto impetuoso; e assim me equiparava eu a qualquer outro, mostrando «desinteresse», -:- coisa que jamais me perdoarei. Quando atingi quase o fim, e por isso mesmo que estava quase no fim, comecei a meditar nesta sem-razão fundamental da minha vida - o «idealismo». A doença, e só ela, me conduziu à razão.

3

À escolha da alimentação, à escolha do clima e do sítio adequado para viver - uma terceira se acrescenta, na qual também cumpre evitar todo o erro, e é essa escolha da forma de divertimento. Aqui também, e na medida em que um espírito é sui generis, os limites do que é lícito, ou seja, útil, são cada vez mais estreitos. No meu caso, toda a leitura faz parte dos divertimentos: faz parte, consequentemente, do que me separa de mim próprio, do que me permite passear pelas ciências e pelas almas alheias, do que não tomo já a sério. A leitura diverte-me precisamente da minha seriedade... Em épocas profundamente ocupadas não se vêem livros perto de mim; se alguém então para mim fala ou pensa, tenho todo o cuidado de o impedir. E a isto chamo eu ler... Já se observou que naquela profunda tensão à qual a gestação intelectual condena o espírito, e no fundo todo o organismo, qualquer género de estímulo provindo do exterior actua com excessiva veemência e penetra demasiado fundo. Deve evitar-se o mais possível toda a acção ocasional, todo o estímulo externo. Uma espécie de emparedamento de si próprio é uma das primeiras formas de instintiva prudência da gestação intelectual. Como haveria eu de permitir que um pensamento alheio escalasse secretamente as paredes? Ler não seria outra coisa.

Aos tempos de trabalho e fecundidade seguem-se os de divertimento: vinde a mim, livros agradáveis, espirituosos e ignorados! Haverá livros alemães assim? Devo regressar seis meses atrás para me encontrar com um livro desses.

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Capa do livro Ecce Homo
Páginas: 115
Página atual: 26

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
INTRODUÇAO 1
Porque sou tão sábio 5
Porque sou tão sagaz 20
Porque escrevo tão bons livros 41
A Origem da Tragédia 52
Considerações intempestivas 58
Humano, demasiado Humano 64
Aurora 71
O Alegre Saber 75
Assim falou Zaratustra 76
Para além do Bem e do Mal 91
Genealogia da moral 93
Crepúsculo dos ídolos 95
O caso Wagner 98
Por que sou uma fatalidade 106