Não tendo, em geral, qualquer recordação agradável nem da minha infância nem da minha juventude, loucura seria dar relevo aqui às chamadas causas «morais» - ou seja à incontestável falta de suficiente convívio: porque esta carência se dá hoje como sempre, sem me impedir ser sereno e corajoso. Em contrapartida, a ignorância in physiologicis, o maldito «idealismo», é a autêntica fatalidade da minha vida, é o que há de dispensável e estúpido, coisa da qual nada de bom surgiu p. para a qual não existe equivalente algum, compen-sação alguma. Explico pelas consequências deste idealismo todos os erros, todas as grandes aberrações do instinto e as «delicadezas» que me mantiveram longe da minha missão na vida. Pergunto-me, por exemplo, por que motivo me fiz filósofo e por que não me fiz médico ou qualquer outra coisa capaz de me abrir os olhos? No meu tempo de Basileia, toda a minha dieta intelectual, horário de trabalho inclusive, constituiu dispêndio, o mais insensato possível, de enormes energias, sem nenhum equivalente compensador e até mesmo sem me aperceber reflectidamente do dispêndio excessivo e da necessidade de compensação.