Ecce Homo - Cap. 6: Considerações intempestivas Pág. 61 / 115

E como eu soube escolher o adversário! O primeiro livre-pensador alemão!... Na realidade, uma nova forma de liberdade de espírito encontrou expressão aqui; nada até hoje me foi mais estranho e menos afim do que toda a espécie europeia e americana de «livre-pensadores». Com eles, como com irremediáveis cabeças ocas e palhaços das «ideias modernas», me encontro em oposição mais funda do que com quaisquer seus adversários. Também eles pretendem, como podem, tornar, à sua imagem, a humanidade «melhor»; fariam ao que sou e ao que quero guerra implacável, se acaso o compreendessem. - Eles crêem todos num «ideal»... Eu sou o primeiro imoralista.

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Que as duas «intempestivas» conhecidas pelos nomes de Schopenhauer e Wagner possam especialmente servir para compreender ou até só para pôr o problema psicológico de um e outro, isso não o pretendo, excepto, como é obvio, em alguns pormenores. Assim, por exemplo, ficou já definido ali com profunda segurança de instinto o que há de elementar na natureza de Wagner como homem de teatro, qual a origem das suas intenções e recursos de expressão. No fundo, com estes dois trabalhos, quis fazer coisa muito diferente de psicologia: um conceito de educação que não tem seu igual, um novo critério de auto-disciplina, um sentido de afirmação pessoal que não recua perante a necessidade de ser duro, um caminho para a grandeza e para assumir deveres à grande escala do mundo, alcançaram assim a sua primeira forma. Pode dizer-se que eu agarrei pelos cabelos dois tipos famosos, ainda não bem fixados, como se agarra pelos cabelos uma oportunidade de exprimir uma coisa, para assim passar a dispor de mais um par de fórmulas, de sinais, de meios de comunicação. Está isto, aliás, indicado por modo bem inquietante na página 93 da terceira intempestiva.





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