Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 7: Humano, demasiado Humano

Página 65
oposto congela «o santo»; sob espessa camada, congela «o herói»; e, por fim, congelam «a fé», a chamada «convicção», e também a «compaixão» fica sensivelmente fria; quase por todos os lados se congela «a coisa em si...»

2

Teve este livro início durante as semanas da primeira festa de Bayreuth; profunda estranheza perante tudo quanto ali me rodeava, tal foi uma das circunstâncias de que surgiu. Quem tiver em mente as visões que se haviam até aí formado já no meu caminho, poderá adivinhar o que senti no dia da chegada a Bayreuth. Tudo me parecia um sonho... Onde estava? Nada reconhecia, e mal reconhecia Wagner. Folheava em vão as minhas recordações. Tribschen afigurava-se longínqua ilha de bem-aventurados; nem sombra de semelhança com Bayreuth. Os incomparáveis dias em que se pusera a primeira pedra, o pequeno e compreensivo grupo que tomara parte na cerimónia e às quais não faltava gosto para as coisas delicadas: nem sombra de semelhança! Que acontecera? Traduzira-se Wagner em alemão! O wagnerismo alcançara uma vitória sobre Wagner! A arte alemã! O maestro alemão! A cerveja alemã! Nós, os que tão bem sabíamos que subtis artistas e que cosmopolitismo de gosto requer a arte de Wagner estávamos fora de nós ao encontrar Wagner vestido de «virtudes» alemãs.

Suponho conhecer os wagnerianos; vivi com três gerações wagnerianas, desde o falecido Brandel, que confundia Wagner com Hegel, até aos «idealistas» das «Folhas de Bayreuth», que se confundem a eles próprios com Wagner; ouvi todo o género de profissões de fé das «belas almas» sobre Wagner. Um reino por uma palavra sensata! Na verdade, gente para pôr os cabelos em pé! Nohl, Pohl, Kohl, e outros pelo mesmo estilo, até ao infinito! nenhum aborto ali falta, nem sequer o anti-semita, Pobre Wagner! Onde ele fora cair! Melhor fora ter caído no meio de uma pocilga! Mas no meio de alemães?.

<< Página Anterior

pág. 65 (Capítulo 7)

Página Seguinte >>

Capa do livro Ecce Homo
Páginas: 115
Página atual: 65

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
INTRODUÇAO 1
Porque sou tão sábio 5
Porque sou tão sagaz 20
Porque escrevo tão bons livros 41
A Origem da Tragédia 52
Considerações intempestivas 58
Humano, demasiado Humano 64
Aurora 71
O Alegre Saber 75
Assim falou Zaratustra 76
Para além do Bem e do Mal 91
Genealogia da moral 93
Crepúsculo dos ídolos 95
O caso Wagner 98
Por que sou uma fatalidade 106