Ecce Homo - Cap. 7: Humano, demasiado Humano Pág. 66 / 115

.. Em última análise, e para escarmento da posteridade, devia empalar-se um bayreutiano autêntico ou metê-lo em álcool para lhe dar o espírito que lhe falta, com a legenda: «Eis a espécie de espírito nobre o qual se fundou o «Império alemão...» Para encurtar razões, no melhor de tudo aquilo, parti, bruscamente, para uma viagem de duas semanas, em que limo, parisiense encantadora se esforçou por me consolar; desculpei-me com Wagner simplesmente por meio de um telegrama fatal. Num canto perdido de Bochmerwald, em Klingerkrunn, andei eu arrastando a minha melancolia, o meu desprezo pelos alemães, como quem arrasta uma doença, e de quando em quando escrevia, sob o título geral de «Relha do arado», no meu livro de apontamentos, algumas frases, claras e pertinentes observações psicológicas, que podem agora ler-se em parte no Humano, demasiado humano.

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O que então em mim se decidiu não foi o rompimento com Wagner; tomei consciência instintiva de uma geral situação aberrante da minha vida. Vi de súbito, e de modo extremamente claro, o tempo que desperdiçava; vi quão inútil e quão arbitrariamente em toda a minha existência de filósofo me desviara do meu dever. Envergonhei-me das falsas modéstias... Deixara atrás de mim dez anos, dez anos durante os quais se suspendera a nutrição do meu espírito, dez anos em que nada fizera de fecundo, em que esquecera de modo absurdo muitas coisas por um acervo de erudição. poeirenta. Caminhar a passo de tartaruga entre Os metros gregos, com a minúcia imposta por olhos doentes, eis o que conseguira. Via-me lastimosamente macilento e descarnado; as «realidades» estavam ausentes da minha provisão de ciência e as «idealidades»... que o diabo as leve!

Apoderou-se de mim uma sede verdadeiramente





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