A princípio, Mr. Bartell d' Arcy recusou qualquer das bebidas, mas um dos vizinhos aproximou-se dele e disse-lhe em voz baixa qualquer coisa que fez com que o tenor consentisse em que lhe enchessem o copo. Gradualmente, a conversa foi diminuindo. Só se ouvia o barulho dos copos. As três Morkan olhavam para a toalha. Alguém tossiu uma ou duas vezes e' depois diversos senhores bateram na mesa, pedindo silêncio. Então, Gabriel levantou-se da sua cadeira e ficou de pé.
Ouviu-se um ruído de incitamento e depois veio outra vez o silêncio. Gabriel encostou à toalha os dedos, que tremiam, e sorriu nervosamente para a assistência. Encontrando uma fila de caras viradas para ele, olhou para o candeeiro. O piano estava a tocar uma valsa e ouvia-se distintamente o roçar das saias que rodopiavam na sala. Talvez estivesse gente parada, lá fora na neve, olhando as janelas iluminadas e escutando a música. O ar, na rua, era puro. Ao fundo ficava o parque, com as árvores vestidas de branco. O monumento a Wellington possuía um manto que se via à distância.
Começou:
- Senhoras e senhores!... Coube-me esta noite, da mesma forma que nos passados anos, um agradável dever, mas um dever que eu tenho receio de não saber desempenhar convenientemente...
- De forma nenhuma!... - atalhou Mr. Browne.
- Mas, no entanto, peço que se prestem a isto e me dêem a vossa atenção por alguns instantes, enquanto faço o possível para exprimir os meus sentimentos...
«Senhoras e senhores: não é já a primeira vez que nos reunimos sob este tecto, pleno de hospitalidade!... Não é a primeira vez que nós merecemos a hospitalidade de certas boas senhoras...»
Desenhou com o braço um círculo no espaço e parou. Todos sorriram para tia Kate, tia Julia e Mary Jane, que ficaram coradas de prazer. Gabriel continuou:
- Cada ano que passa, eu sinto com maior intensidade que a nossa terra não tem tradição que lhe dê maior honra e que deva conservar com maiores cuidados do que a da hospitalidade. É uma tradição única, pois tenho visitado vários países estrangeiros, nações modernas, e nunca a encontrei tão desenvolvida. De uma coisa eu estou certo: é que enquanto estas senhoras existirem, e eu desejo de todo o coração que seja por muitos e muitos anos... a tradição da genuína e amável hospitalidade irlandesa, que os nossos avós nos transmitiram e que por nossa vez devemos transmitir aos nossos descendentes, viverá entre nós para sempre!...