Porque quando as observo, cada uma de per si, não sei se escolha a dona da casa, de tão grande coração, ou sua irmã, que parece possuir juventude perpétua e cuja voz nos surpreendeu esta noite, ou ainda se considere a mais nova, cheia de talento, de alegria, trabalhando duramente e a melhor das sobrinhas... Confesso, senhoras e senhores, que não sei qual delas merece o prémio...
Gabriel olhou para as tias, e, vendo um grande sorriso no rosto da tia Julia e as lágrimas que bailavam nos olhos da tia Kate, apressou-se a terminar. Levantou o seu cálice de porto, enquanto todos os convivas faziam o mesmo, e disse, com voz forte:
- Vamos fazer um brinde às três juntas!... Vamos beber à saúde delas... Longa vida, alegria e prosperidade e para que continuem a ocupar a posição que têm na sua profissão e o lugar de honra e de afeição que conquistaram nos nossos corações!...
Todos os convidados se levantaram, com os cálices nas mãos, e, voltando-se para as três senhoras que continuavam sentadas, cantaram em uníssono:
Porque são pessoas alegres,
Porque são pessoas alegres,
Porque são pessoas alegres,
Isso é que ninguém pode negar!...
A tia Kate já se servia do lenço, e mesmo a tia Julia parecia comovida. Freddy Malins batia o compasso com um garfo e os cantores continuavam com ênfase:
A não ser que minta,
A não ser que minta ...
Depois, virando-se novamente para as donas da casa, repetiram:
Porque são pessoas alegres,
Porque são pessoas alegres,
Porque são pessoas alegres,
Isso é que ninguém pode negar!...
As aclamações que se seguiram foram par- tilhadas por muitos dos outros convidados que estavam na outra sala, e dirigidas por Freddy Malins que empunhava o seu garfo.
O ar cortante da madrugada penetrou no hall onde eles se encontravam, o que fez com que a tia Kate dissesse:
- Alguém que feche essa porta!... Mrs. Malins morrerá de frio!...
- Browne está lá fora, tia Kate - explicou Mary Jane.
- Browne está sempre em toda a parte - disse a tia Kate, levantando a voz.
Mary Jane riu-se.
- Na verdade - disse -, é muito atencioso.
- Mas diz-lhe que venha para dentro, para se poder fechar a porta.
Naquele momento, Mr. Browne entrou, rindo-se de uma forma assustadora. Trazia um comprido sobretudo verde, com astracã na gola e nos punhos e na cabeça ostentava um barrete, também de pele. Apontou para fora e disse:
- Os carros de Dublin vão sair todos cá para fora.